sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

As fases do luto.


Eu assisti a uma palestra com a mãe enlutada e empresária Andrea Murguel em que ela explica com muita delicadeza este processo do luto!

Cinco são as fases do luto: Negação, Raiva, Depressão, Barganha e Aceitação. 

A primeira fase é aquela em que as pessoas facilmente classificam como "o não caiu a ficha!" Comigo, logo de cara eu me senti traída, retalhada, mas tinha em mim uma necessidade visceral de ser forte, de consolar a minha família e certos amigos: os verdadeiros... Me lembro de várias vezes no velório ter tido a preocupação com amigos do Bruno que se desesperavam ao ver o corpo inerte e eu os acalentava... Não como mãe enlutada, mas como mãe e sei que minha força veio da minha mãe Yemanjá! Aliás, minha e dele!  Me recordo dos rostos, da tristeza, do vazio... E esse vazio é cruel! 

Me lembro dos rostos de três pessoas que estavam com ele. Me lembro de um deles chorando aos meus pés... Me lembro de tudo o que ele me disse e me lembro que enquanto ele falava, eu mentalmente pedia a minha mãe Yemanjá forças... Parecia que eu queria ser à prova de dores, mas mesmo assim ali na hora de levarem o corpo, meu organismo disse: chega! E eu caí sem forças com a pressão tão baixa e os batimentos tão altos que não dava para acreditar! 

Com o passar dos dias, eu comecei a sentir uma raiva imensa das pessoas que estavam com meu filho! Me lembrei do meu marido dizendo que encontrou tíquetes de lanche durante o dia e nas horas em que meu filho estava sumido. Mas como assim? O Bruno sumido e a galera foi lanchar no carro dele? Que irmandade é essa que sai para lanchar com o amigo sumido e nem sequer liga para a família para dizer o que estava ocorrendo? Talvez esperassem "o momento certo" para ligar! 

E eu me joguei em um colchonete no chão do meu quarto e lá fiquei por quase um mês: sem querer me alimentar, sem querer falar com as pessoas, sem querer conversar com Deus!

Foi um período muito difícil... E eu tinha sonhos com o Bruno sendo assassinado com o lugar onde eu supunha que ele havia sido escondido para sangrar até morrer... Com a minha vingança... Sim, vingança! Porque na fase da raiva o que você mais pensa é que os algozes do seu filho precisam sofrer o que ele sofreu e seus parentes mais ainda! E até hoje quando penso em parentes sinto uma vontade de vomitar horrível!

A fase da raiva dura um bom par de meses, principalmente para quem perdeu seu ente para a violência! E é uma fase em que você quer esbofetear quem vem com aquelas malditas frases de efeito: 

"Ah, ele era tão bom que Deus queria ele perto dele!"
"Não chore assim, ele está em um bom lugar. Aliás, melhor que nós!" 
"Não fique chorando, você vai atrapalhar ele na espiritualidade!" 

Cara essa frase foi a que mais me doeu... Principalmente, por ouvir de espíritas metidos a Alan Kardec! Que ódio dessa gente! Gente burra que ao invés de calar a boca e simplesmente me abraçar, vendiam ou tentavam me vender uma premissa completamente falsa! Nos primeiros tempos após o desencarne, o espírito é colocado num sono profundo num hospital, para que possa se situar e não passar pela tristeza de ver a família desesperada! Gente, a espiritualidade é maravilhosa! Nós é que somos seres em evolução e às vezes, uns asnos!

Bem, quando começamos a deixar a ficha finalmente cair, vem a maldita depressão e com ela muitas síndromes! Eu por exemplo fiquei muito desgostosa da vida! Passei a odiar o município em que morava... Odiar a minha casa... Aliás, isso dura até hoje! Se insisto em voltar a Mangaratiba, entro de novo em depressão! Prefiro a morte! 

A depressão é cruel... Ela afeta a pessoa e todos ao seu redor! Ela destrói uma família! Destrói uma carreira... Hoje eu percebo que não sou arremedo do que já fui um dia! E a depressão é a fase que mais vai e volta! E as pessoas não estão preparadas para conviverem com um depressivo! É chato, angustiante, mas eu entendo. 

Tive o merecimento de ter algumas pessoas que me apoiaram durante este período cruel e ao contrário das estatísticas, eu e meu marido ficamos muito mais unidos! Tive dois episódios de quase-morte provocados pela crise de pânico: uma bem recente e uma na semana antes do Natal! Foi horrível! Desgastante... E o pior é tentar controlar uma coisa que você não consegue!

Bem, a fase da barganha para mim é a que estou... Cheguei a conclusão de que se eu for uma "boa menina", tanto o Altíssimo quanto as pessoas ao meu redor me aceitarão com mais facilidade e eu poderei finalmente merecer o reencontro... É... porque uma mãe enlutada pensa dia e noite em se reencontrar com seu(sua) filho(a) num dia num universo paralelo.

Eu não cheguei a fase de aceitação! Não ainda! A minha fé é que me faz mais calma e mais confiante, mas não é ainda aceitação! Eu ainda preciso entender o por quê dos encarnados para a morte do meu filho. O que aconteceu de verdade? O por quê, da polícia ter ficado tão parada e inoperante? E são tantos os por quês...

Mas eu sei que um dia chegarei lá... E para isso, conto com apoio dos médicos, dos amigos, dos grupos de ajuda com minhas irmãs-amigas, da minha família e principalmente, da minha fé e da Luz do meu anjo Bruno!

E a fase de aceitação não significa necessariamente que aceitamos... Penso que com o tempo, entendemos que este é o ciclo da vida e que quando temos uma religião nos envolvemos na certeza do reencontro.

É importantíssimo ressaltar a oscilação dessas fases... Vamos e voltamos a cada uma delas até que um dia nossa psiquê diz: "Chegou a hora!"

E o tempo de duração de um luto? Ah, isso só o próprio tempo vai determinar! Não há uma regra, não há uma condição... E coitado(a) daquele(a) que se julga superior em classificar um(a) enlutado(a) como oportunista de seu luto... A esses, o nosso perdão!

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